Luís Nunes “roeu a corda” com mexidas no Governo de Benguela sem aval do MPLA

Avatar By Redacao Jun 21, 2024
Luís Nunes "roeu a corda" com mexidas no Governo de Benguela sem aval do MPLA

Nomeação sem parecer da Comissão Executiva, o núcleo duro do partido em Benguela, está a gerar desconforto, mas há quem defenda apoio dos munícipes em nome de uma causa comum. Novo administrador, que encontra largos milhões para quebrar o enguiço das estradas, chega da Huíla após ter “somado” exonerações motivadas por suspeitas de corrupção.

Debaixo de “fogo cruzado” como nunca se tinha visto desde a chegada a Benguela, em Março de 2021, quando era apontado como uma espécie de salvador, o governador provincial enfrenta observações críticas pelas nomeações de gestores públicos empossados nesta quinta-feira – pelo menos assim indicava até ao fecho desta edição -, sendo o caso mais bicudo o do novo administrador do município-sede, Armando Baptista Vieira, que constitui motivo de alerta até para o Serviço de Inteligência e Segurança do Estado (SINSE).

Quando, por uma ou outra razão, se ignora o silêncio característico deste órgão de segurança, preocupado com os antecedentes criminais do substituto de Paula Marisa enquanto administrador na Huíla, cedo surge o ruído em torno de exonerações e nomeações sem um parecer da Comissão Executiva do Comité Provincial do MPLA.

Pior do que uma medida unilateral, adversa ao que é habitual no partido governante, será, segundo levantamentos feitos pelo NJ, a aposta num administrador que arranca do zero, tendo chegado às escuras num município com problemas complexos e sem tempo a perder.

“Talvez merecesse rejeição numa eventual discussão da Comissão Executiva”, avançou um membro do Comité Provincial, defensor da “prata” da casa face ao quadro actual do município de Benguela.

Indiferente aos supostos desvios orçamentais no Lubango e Quilengues, que explicam os questionamentos do SINSE ao governador e primeiro-secretário do Comité Provincial, a fonte do NJ, que já esteve no Governo, teme que Vieira não tenha condições para dirigir o município neste ambiente de contestações.

Já o militante José Cabral Sande, que falava nas vestes de analista político, afirmou que “Benguela tem pressa”, sublinhando, algo irónico, que “também o substituto de Evaristo Calopa [administrador do Lobito] chegará da Huíla.

Sande disse não acreditar em falta de capacidade internamente, até porque “há adjuntos”, e reafirmou que o cerne da questão é apenas o facto de Vieira ter ainda de conhecer os cantos a casa.

“Se vai, mais coisa, menos coisa, cumprir orientações … não sei o que os outros não possam fazer. Paula Marisa, se calhar, não fez mais porque não teve condições”, referiu Cabral Sande.

Outros conhecidos militantes, embora igualmente surpresos, realçam que os benguelenses devem apoiar o administrador em nome de uma causa comum, a causa do desenvolvimento do município.

“Talvez fosse melhor um filho da nossa Ombaka, mas ser de ou estar em Benguela há bastante tempo não é sinónimo de sucesso. Aliás, tivemos muitos nos últimos anos, e isso não significou grande coisa”, lembrou um membro ligado ao sector empresarial.

Chegada com milhões para atacar enguiço das rodovias

Não se conhece qualquer reacção – a imprensa aguardava pela cerimónia de tomada de posse – do governador provincial à polémica que resulta da nomeação de Armando Vieira, associado, como amplamente noticiado por alguma imprensa na Huíla, a práticas que podem configurar corrupção.

É expectável, segundo o prognóstico de Cabral Sande, que o novo administrador receba “alguns tostões” para esta ou aquela obra, numa tentativa de Luís Nunes ofuscar este ambiente que se diz adverso.

Para já, tal como deu a conhecer o primeiro-secretário ao Comité Provincial, o município de Benguela vai beneficiar de 100 milhões de dólares para a reabilitação de estradas até agora com remendos do programa tapa-buracos.

Valor semelhante, ao abrigo de um financiamento externo, receberá, para o mesmo fim, o Lobito, que deverá contar, igualmente, com novo administrador.

O NJ procurou obter uma reacção da segunda-secretária do Comité Provincial do MPLA, Rosalina Cassissa, mormente sobre a inexistência de um parecer da Comissão Executiva, mas não teve sucesso.

Este dilema surge semanas após Luís Nunes ter afirmado que “os dirigentes do partido devem deixar o ego e a arrogância em prol da união”.

Nestas mexidas, destaque ainda para a saída de José Ferreira de Caimbambo para a Catumbela, município até então dirigido por Kátia Teixeira, e de movimentações em departamentos ministeriais.

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Com o jornal praticamente fechado, uma nota do Gabinete de Comunicação Social do Governo Provincial de Benguela dava conta da exoneração dos administradores dos municípios do Lobito e Baía Farta, Evaristo Calopa Mário e Miraldina Torres, respectivamente.

Se para a Baía, um importante pólo piscatório, Luís Nunes enviou Mário Calopa, que também já foi director da Educação, não há, por ora, um administrador para o estratégico Lobito.

Este vazio alimenta o que analistas chamam de “fórmula Benguela” para o município ferro-portuário, numa alusão à possibilidade de o governador vir a optar por um “ilustre desconhecido”, à semelhança do que aconteceu no município-sede.
Miraldina Torres sai da Baía Farta para o Caimbambo, município rejeitado, sabe o NJ, pela antiga administradora de Benguela. In NJ