Negócios de sucatas ilegais sobrevivem à custa do roubo de bens públicos

Avatar By Redacao Fev 11, 2024
Negócios de sucatas ilegais sobrevivem à custa do roubo de bens públicosRoubo de bens públicosNegócios de sucatas ilegais sobrevivem à custa do roubo de bens públicos

Diariamente são roubadas em Luanda entre 98 a 105 tampas de sarjetas. Em caso de reposição do material, o GPL teria custos de 2,7 mil milhões Kz/mês. Os ladrões ganham, em média, 6.200 Kz por uma tampa de esgoto. O Estado gasta 900 mil Kz para repor cada uma delas.

O negócio de sucatas que proliferou um pouco por todos os bairros da cidade de Luanda está a ser sustentado, maioritariamente, por bens roubados na via pública. Tampas de sarjetas, cabos elétricos, varões de torres elétricas e ferros dos postos de betão são os materiais mais cobiçados pelos “caçadores de ferro”. Se tivesse de comprar e repor todos os dias as tampas de sarjetas roubadas, o Governo Provincial de Luanda (GPL) teria encargos diários de 90 milhões de Kz, apurou o Expansão.

Dados do GPL apontam que, por dia, são retiradas das vias de Luanda 98 a 105 tampas de sarjeta. Entre os bairros mais visados constam o Palanca, Nelito Soares (ruas das Bs e Cs), Bairro Azul, nas novas centralidades do Kilamba, Sequele e Marcony.

“Quando se furtam estas tampas libertam-se os gases e todos os transeuntes ficam expostos aos riscos de contrair problemas do foro respiratório, além dos carros que ficam danificados”, relata Zenilda Mandinga, directora da Unidade Técnica de Gestão e Saneamento de Luanda.

De acordo com a responsável, a aquisição de cada tampa de sarjeta custa ao Estado 300 a 400 mil Kz no mercado internacional. Se juntarmos aos custos o processo de montagem, o GPL gasta por cada tampa 900 mil Kz.

Contas feitas pelo Expansão, se o GPL tivesse de repor, em média, 100 tampas que são retiradas todos os dias das vias teria um encargo de 90 milhões Kz/dia e 2,7 mil milhões Kz/mês.

Para o governo provincial, o défice de emprego, a existência de mercado com preços muito baixos e a falta de consciência sobre as consequências estão na base deste problema de subtração de bens públicos.

“O nosso munícipe tem de perceber que se retirar estes equipamentos o seu filho, o seu vizinho ou avô é que está propenso a ter um incidente naquele sítio”, salientou Zenilda Mandinga, apelando à formação para que haja maior consciência sobre a necessidade de proteger os bens públicos.

GPL não ficou convencido com argumento das fábricas

Questionada se o GPL tem ou não alertado as empresas que transformam ferro no sentido de evitarem comprar material retirado da via pública, a responsável revelou que já foram feitas visitas, com a Polícia de Investigação Criminal, junto destas unidades para perceber a proveniência da matéria-prima que usam, tendo descartado os argumentos apresentados por muitas empresas. “Uns dizem que provém de material forjado que foi parar à sucata, mas os documentos não batem certo. Outros dizem que encontram o material largado na via pública, o que não é verdade. Outros encontram material na via pública e vandalizam propositadamente por causa do seu valor”, relatou ao Expansão a directora da Unidade Técnica de Gestão e Saneamento de Luanda.

Nos contentores e quintais dos bairros, os compradores de sucata pagam por cada quilo de cobre 2 mil Kz, o alumínio 600 Kz e o ferro 100 Kz. São estes os grandes fornecedores de matéria-prima das fábricas de transformação de ferro, alumínio e cobre que existem no País, apurou o Expansão.

Por exemplo, a Fabrimetal, líder em Angola na produção de varões de aço e produtos complementares, como barras, cantoneiras e perfis, compra, em média, 500 toneladas/dia, pagando 195 mil kz por tonelada.

Em resposta ao Expansão, a empresa diz que usa, na sua produção, materiais ferrosos (sucata) adquiridos no mercado interno, obedecendo a padrões de qualidade e a sua aquisição é sujeita também a regras. Expansão